Friday, April 8, 2011



Março e Setembro: os meses dos meus encantos


Há meses que nos marcam. Eu tenho dois que, curiosamente, se uniram para me darem vida: março e setembro. Deram-me vida em vários andamentos. Porém todos eles em allegro. No primeiro andamento, março chegava com a promessa de primavera e, lá para a frente, uma fuga vertiginosa, a que os antigos deram o nome de feira. (Sempre pensei que o nosso rei que criou as feiras teve a melhor ideia de todos os tempos... Chegava feira de março à cidade, invariavelmente, no dia 25 e lá permaneceria até ao dia 8 de abril, mais coisa menos coisa... Que alegria! Quase sempre coincidia com as férias da Páscoa e as meninas poderiam sair, à tarde, sozinhas. À noite, mais ou menos vigiadas pelos olhares de adultos. Os carrocéis! O circo! Os carrinhos! Ai os carrinhos!... (Foi aí que mostrei pela primeira vez a alguém(que iria ser a minha Vida) que com as meninas não se brinca...) O circo fazia-me viajar ao mundo imaginário com os palhaços que falavam um linguajar esquisito (quase nunca entendido) e que eram capazes de deitar fogo ou água pelo nariz ou pelo peito. Porém, não compreendia a razão pela qual era quase sempre o palhaço rico que tocava os instrumentos mais bonitos enquanto o palhaço pobre tocava instrumentos menos vistosos e dos quais quase não se percebia a beleza dos sons. (Mais tarde percebi. Foi lá para os finais dos anos 60... Ah! Já me lembro. Foi depois do mês de Maio de 1969. Isto é que é ter memória. Agora há muito boa gente que não se lembra de nada).
E os chimpanzés que andavam de bicicleta e comiam batatas fritas? E os cavalos que dançavam com tanta elegância? Mais tarde, iria recordar os cavalos dos circos Luftman numa belíssima apresentação de "los cavallos andaluzes" a que assisti em Cádiz... Não! Não esqueci os pachorrentos elefantes que, desajeitadamente, mudavam a posição das valentes patas numa presunção de bailado... Também gostava dos trapezistas... Muitas vezes fechava os olhos para não ver uma eventual queda. Não gostava mesmo nada era do número dos pratos chineses porque se partiam muitos e, por certo, seriam caros...
Finalmente, coroando o encantamento do circo, chegava, muito calmo, um senhor vestido de preto, acompanhado por uma senhora e vá de fazer aparecer e desaparecer tudo num ápice! Da sua cartola saíam flores que, uma a uma, compunham aquilo a que o mágico (muitas vezes o grande Conde de Aguillar) chamava o Jardim de Alá. Para mim, a apoteose era mesmo o número dos lenços coloridos. Que maravilha! Deveria ser muito rico aquele senhor que tinha tantos lencinhos de cetim que esvoaçavam na pista. Uma noite aconteceu que um voou até pertinho de mim, mas estava lá um arrumador que, zelosamente, o levou para dentro. Outra coisa que eu não compreendia era que, havendo música, ninguém cantava... Pensamentos de menina, que sabia letras de canções francesas da Piaff, do Charles Trenet,do Aznavour, para já não falar da música brasileira e dos tangos argentinos... Foram precisos alguns anitos para, já com uma filha a meu lado, ter o prazer de ouvir cantar no circo a então muito conhecida canção dos Platters Only You . Nessa altura, a feira já não era em Março, eu já não acreditava nos mágicos... já tinha medo dos carrinhos de choque e o carrossel deixava-me com a cabeça à roda. De uma coisa nunca deixei de gostar: das peças de feitas de barro bem ao gosto popular (com exceção dos galos de Barcelos). Março perdeu o encanto da feira. Resta-lhe ser o mês do Dia da Mulher e do Dia do Pai... Basta-lhe ser o mês da Primavera e o mês da VIDA. Depois da Feira, toca a pensar no Verão, o que significava céu azul, mar, areias douradas e os amigos da Praia. Pois é! Havia os amigos do Inverno, da escola, do liceu, das idas ao cinema no domingo à tarde e havia os amigos do Verão, que nos escreviam aí uma vez por mês e que nos esperavam na praia dos meus encantos... Quando eu vou prá Nazaré...meu coração se enobrece por ver que esta terra é aquela onde tudo esquece Setembro transformava-se num mês mágico, num tempo de liberdade... A praia dos meus encantos era uma praia pequenina com rochas, com muita gente no verão e com vida própria e diferente no inverno. A praia dos meus encantos tinha mar calmo e mar alteroso... Tinha tradições bem fortes ligadas à pesca e tinha muitos barcos e pescadores. Tinha mulheres que haviam sofrido a perda dos maridos, dos filhos ou dos irmãos... A praia dos meus encantos transformava-me em Setembro numa borboleta colorida que esvoaçava o dia todo: de casa para a beira mar, da beira mar para casa, de casa para as rochas, das rochas para o banho de mar, do banho de mar para o banho de sol... De casa para o Monte Branco. Do Monte Branco para casa ...De casa para a Foz e da Foz para a Praia do Norte... De casa para aqui ... de casa para ali...Dali para acolá... raia dos meus encantos...


A praia dos meus encantos ficou para sempre ligada a Setembro- o mês da minha Vida.

Thursday, April 7, 2011

Sonho





Se eu fosse uma flor, gostaria de ser uma violeta, uma orquídea, um jasmim...ou um simples malmequer do campo...desde que cumprisse a missão de ser flor.
Se eu fosse um rio, gostaria de ser o rio da minha terra, ou da terra em que vivi ou da terra que visitei... Um rio, simplesmente. Fonte de vida.
Se eu fosse o mar, gostaria de unir os povos sem exceção...
Se eu fosse uma pedra, gostaria de ser um pedaço de mármore rosa, azul ou branco que não precisasse de ser moldado para ser belo...
Como nunca serei um rio, ainda hei de brincar com uma pedra rosa, azul ou branca e sonhar que viajo num barquito por sobre as águas do rio da minha terra, ou da terra em em que vivi, ou da terra que visitei...
Chegarei ao mar num dia azul para mais tarde desembarcar numa praia calma com muitas pedras azuis, rosas e brancas que hão-de transformar-se em flores.


PS - Uma amiga sugeriu-me um título qué é ele próprio um poema em prosa: «Aromas de piedras y ríos en mi sueño azul»

Gracias Amiga

Monday, April 4, 2011

SE...

Se a tristeza me bater à porta, como sou muito educada, dir-lhe-ei que entre, mas logo a seguir digo que não... Que não tenho tempo de atendê-la ...
E vou ver as flores do meu jardim...

Se a monotonia me bater à porta, dir-lhe-ei que entre, mas depois digo que não...Que não tenho tempo de atendê-la...E vou brincar com a Flor, que há de esperar no meu jardim...

Se a angústia me bater à porta... nem sequer lhe direi que entre. Espreito pela janela e direi que não tenho tempo e que...nem sequer a convidei. «Com licença, Senhora, vou ver os meus Gatos e o meu jardim...

E mesmo que esteja frio e o vento sopre com força, se senhoras desta estirpe quiserem importunar-me, há sempre tanto que fazer...Os livros, as viagens e acima de tudo o amor!




Posted by Lita at 9:26 AM 0 comments Saturday, November 29, 2008

É Inverno

Está frio! A chuva teima em não parar. É o Inverno que chega!
Hoje, resolvi zangar-me com este senhor friorento e rabugento.
A temperatura baixou? Veste-se mais um casaco. Chove? Não saio de casa. O vento sopra forte? De casa não saio. Este ano, (apesar da crise, apesar dos atentados, apesar das intempéries, apesar dos pesares),decidi olhar para os pés de jasmim que já querem florir, olhar os tapetes de violetas que, aqui e além, já estão salpicadas de minúsculas flores, ver as minhas gatas, que brincam despreocupadas e ficar contigo, que gostas de me ver sorrir. Pois é! Tomei a resolução de não me preocupar com o frio. O pior é que as resoluções fazem-se e desfazem-se... Estou ao computador e as mãos gelam...Olho para o calendário e vejo que Novembro está no fim. Já há embrulhos nos armários. Nas ruas, (sempre apesar dos pesares), cintilam lâmpadas. Não vale a pena fugir ao reinado do senhor das paragens nórdicas que passeia a sua obesidade mórbida nos centros comerciais de todo o mundo (dito civilizado). É NATAL e no Natal há frio, mas há lareira. Há neve, mas há presentes. As famílias reunem-se, mas nem todos estão contentes... E eu? Eu? Apesar da crise, apesar dos atentados, apesar das intempéries, (apesar dos pesares),decidi olhar para os pés de jasmim que já querem florir, olhar os tapetes de violetas que, aqui e além, já estão salpicadas de minúsculas flores, ver as minhas gatas que brincam despreocupadas e ficar contigo, que gostas de me ver sorrir.
Já é quase Natal

Posted by Lita at 10:20 AM 1 comments Labels: Inverno
Tuesday, April 8, 2008



Hoje...
Hoje é para ti que escrevo...
Hoje recordo o rio da minha cidade que não se encontra com outro, mas que propiciou encontros...
Hoje relembro sussurros meigos que não são de raizes de sumaumeiras, mas de plátanos com folhas incipientes...
Hoje recordo os murmúrios de águas que não se encontram com outras nem têm igarapés nem agapós...
Hoje não tenho dezasseis anos, mas ainda sou a mesma menina tonta que se revê nas águas, sejam elas do Liz ou do Amazonas.
Posted by Lita at 12:23 PM 1 comments Home Subscribe to: Posts (Atom) acaciasmania

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Sunday, February 27, 2011

Chegaram, chegaram... as andorinhas

Há dois tempos. Há o tempo da cor, da luz, do sorriso... Há o tempo das nuvens, da chuva e das lágrimas... Esses dois tempos vivem junto de nós. A um chamamos primavera, verão, alegria... Do outro dizemos que mora no escuro do outono, no frio do inverno, nos nossos dias tristes. As andorinhas vêm acabar com o tempo escuro, triste e frio e trazem a esperança da cor, da luz e do sorriso.
Tu vieste hoje trazer a boa nova da chegada das andorinhas
Talvez não saibas que, quando eu era muito, muito menina, Elas, as tuas duas avós me cantavam assim: "Chegaram, chegaram. Já cá estão as andorinhas, o tempo da primavera, o tempo das florinhas..." Uma delas, a mais alegre e misteriosa, que eu agora comparo com a Quina da SIBILA, corria a procurar a agenda e marcava o dia da chegada. Ainda me lembro de duas datas: 23 de fevereiro (ai que falta nos faziam já),13 de janeiro(que bom já cá estão!). Aquelas duas mulheres viviam num tempo comandado pela nesga de uma janela da casa onde nasceste.
Talvez não saibas também que o conselho directivo de uma certa escola secundária aprovou uma moção a favor da permanência dos ninhos das andorinhas nos beirais e, para que constasse se lavrou em acta... Foi nos anos 70 e, contraditoriamente, essa escola tinha por vizinhos Pedro e Inês na Quinta das Lágrimas...

Monday, October 11, 2010

BRANCA FLOR

Há já uns anitos, um jovem avô fez uma promessa ao seu neto: «Hei-de reescrever-te a história da Branca Flor. Qualquer dia faço isso…» O tempo passou, passou e nada. E não é que chega a Flor num dia quente de Agosto?... E não é que também a ela pode aplicar-se a pergunta que ireis ouvir ao longo da história? – Branca Flor, estás pronta? Mas não nos percamos para não ficar tudo pelo caminho.
Já que o avô não passou a escrito o conto tantas vezes recontado e ouvido, vou eu saldar a dívida na esperança de que a tradição não se perca. Ora lá vai.
Como em todas as histórias tradicionais, há uma menina linda e boa. Poderia chamar-se Laura, ou Margarida, ou Filipa, ou Ana, ou Rita ou Catarina. Mas não! Chama-se simplesmente BRANCA FLOR ! Há um papagaio que a acompanha sempre. (Poderia também ser um macaco chamado Chico…) Há uma pomba pura e branca. Há um pai tirano. Há um pretendente a marido, que é velho, feio, gordo e rico. Contudo, a menina, que era linda como o Sol, só queria passear pelos bosques sem se preocupar com casamentos forçados. Ela sabia bem o que queria. Um belo príncipe viria de Granada para a libertar da opressão paterna.
No dia do seu aniversário, o pai disse-lhe: Branca Flor. Hoje temos visitas. Vai para o teu quarto. Veste o teu vestido novo e , quando eu te chamar, deverás estar pronta para descer. Branca Flor temia este dia. Fechou-se no quarto com os seus amigos leais – o papagaio e a pomba. Só eles lhe podiam valer. Diz-me, papagaio, que posso eu fazer contra a vontade do meu pai. Ajuda-me por favor! Diz-me, pomba branca , que posso eu fazer para sair daqui?
O papagaio e a pomba não precisaram de palavras para se entenderem. A amizade por Branca Flor uniu-os de imediato. Então o Louro (assim chamavam ao papagaio) sussurrou algumas palavras ao ouvido da menina enquanto a doce e pura pomba branca saía pela janela voando na esperança de encontrar auxílio.
Branca Flor, estás pronta? - vociferou o pai. Estou a vestir o meu vestido novo, senhor meu pai . Papagaio, vem pomba? Nem pomba nem sombra!, amiga Branca Flor! Uma segunda investida do pai: Branca Flo…o…or, estás pronta? Estou a calçar os meus sapatos. E uma vez mais a mesma pergunta ameaçadora: Branca Flor, estás pronta? E sempre as mesmas respostas amedrontadas: que estava a pentear-se; que estava a lavar-se; que estava a compor a capa; que estava a pôr o chapéu… E sempre a mesma pergunta angustiada: Papagaio, vem pomba? E sempre a mesma resposta não desejada: Nem pomba nem sombra! Os gritos do pai misturavam-se com os soluços da menina , entrelaçando as palavras: Estás pronta? Vem pomba? Nem sombra… De repente o silêncio. Depois o pai ameaça: Vou contar até três e, se não desceres, arrombarei a porta do teu quarto.
Pela última vez, desesperada, Branca Flor sussurra: Papagaio vem pomba? Batendo as asas de alegria o papagaio responde: Vem pomba e vem sombra . Vem o teu príncipe, montado no seu cavalo branco. Vem o rei, seu pai, e toda a sua gente!
E o vento lá fora repetia:

Vem pomba, sem sombra!

Vem pomba, sem sombra!
Vem pomba, sem sombra!

Branca Flor !

Branca Flor !

Branca Flor !


Então, as amendoeiras encheram-se de flores brancas que juncaram o chão por onde passará BRANCA FLOR.

Wednesday, August 25, 2010

A Flor Chegou! Mais uma para o clã!


Agora só escrevo quando vale a pena. Agora vale muito a pena: Vale a pena, porque nasceu uma FLOR!
Esta não será a carta para a minha avó, mas a carta da tua avó que vais conhecer e que espera vir a ensinar-te muitas coisas. Não te aflijas que não serão coisas aborrecidinhas (essas são para aprenderes noutros sítios que eu não digo). Irei ensinar-te a olhar o Mar, a Lua e as Estrelas. Irei contar-te como foi o dia em que nasceste. Irei contar-te como foram os dias felizes da nossa família... Irás ver as minhas flores. Poderás brincar com os nossos gatos que já sentiram que tu chegaste. Talvez te ensine a ler (se me pedires). De certeza, de certeza: irás ouvir a história da Branca Flor e da Vaquinha Vitória, o Bicho Vai, o Arre Burrinho... Quando fores maiorzinha, aprenderás a gostar de Brell, do Chico e do Vinícius. Pedirás à tua mãe que te cante O Coro das Velhas enquanto lhe fazes orelhadas (Vinga-me Flor....) A tua mãe sabe muita coisa. Se acaso se atrapalhar,(os psicólogos às vezes são complicados), pergunta à Tia Guidinha ou mesmo à Tia Catty (se a apanhares a jeito...) Ao Vô Lito tens muito que perguntar... Sabes uma coisa? Ele foi o primeiro cientista que conheceste. Não te esqueças disso... Há outros e outros(as) virão, mas ele foi o primeiro!
Olha: não fiques aflita se deres um trambolhão e torceres o teu pezinho. O teu Pai sabe tratar disso...
Agora um segredo que não podes contar a ninguém: Nós somos a Família mais linda do Mundo e tu és a nossa FLOR!

Sunday, January 18, 2009

Quando acaba o Inverno, Mamã?

Ainda ontem me perguntavas: Quando acaba o inverno, Mamã? Tu sabias que, no Inverno, os teus fatinhos não tinham flores. Tu sabias que, no Inverno, os girassóis estão escondidos lá longe, para além das montanhas...
Ainda ontem me perguntavas: Quando vamos comprar um vestido igual ao da Porcina?
Eu gosto tanto dos vestidos da Porcina, Mamã!
Já nem lembro bem quem era a Porcina. Só sei que era uma personagem interpretada pela grande actriz brasileira Regina Duarte, cuja indumentária agredia qualquer um.
Eu quero ver a loja das noivas, Mamã! Olha aquele tão lindo!
Pois sim! Era o mais barroco!
Eu quero um vestido novo, Mamã!
Quando acaba o inverno, Mamã?