Monday, October 11, 2010

BRANCA FLOR

Há já uns anitos, um jovem avô fez uma promessa ao seu neto: «Hei-de reescrever-te a história da Branca Flor. Qualquer dia faço isso…» O tempo passou, passou e nada. E não é que chega a Flor num dia quente de Agosto?... E não é que também a ela pode aplicar-se a pergunta que ireis ouvir ao longo da história? – Branca Flor, estás pronta? Mas não nos percamos para não ficar tudo pelo caminho.
Já que o avô não passou a escrito o conto tantas vezes recontado e ouvido, vou eu saldar a dívida na esperança de que a tradição não se perca. Ora lá vai.
Como em todas as histórias tradicionais, há uma menina linda e boa. Poderia chamar-se Laura, ou Margarida, ou Filipa, ou Ana, ou Rita ou Catarina. Mas não! Chama-se simplesmente BRANCA FLOR ! Há um papagaio que a acompanha sempre. (Poderia também ser um macaco chamado Chico…) Há uma pomba pura e branca. Há um pai tirano. Há um pretendente a marido, que é velho, feio, gordo e rico. Contudo, a menina, que era linda como o Sol, só queria passear pelos bosques sem se preocupar com casamentos forçados. Ela sabia bem o que queria. Um belo príncipe viria de Granada para a libertar da opressão paterna.
No dia do seu aniversário, o pai disse-lhe: Branca Flor. Hoje temos visitas. Vai para o teu quarto. Veste o teu vestido novo e , quando eu te chamar, deverás estar pronta para descer. Branca Flor temia este dia. Fechou-se no quarto com os seus amigos leais – o papagaio e a pomba. Só eles lhe podiam valer. Diz-me, papagaio, que posso eu fazer contra a vontade do meu pai. Ajuda-me por favor! Diz-me, pomba branca , que posso eu fazer para sair daqui?
O papagaio e a pomba não precisaram de palavras para se entenderem. A amizade por Branca Flor uniu-os de imediato. Então o Louro (assim chamavam ao papagaio) sussurrou algumas palavras ao ouvido da menina enquanto a doce e pura pomba branca saía pela janela voando na esperança de encontrar auxílio.
Branca Flor, estás pronta? - vociferou o pai. Estou a vestir o meu vestido novo, senhor meu pai . Papagaio, vem pomba? Nem pomba nem sombra!, amiga Branca Flor! Uma segunda investida do pai: Branca Flo…o…or, estás pronta? Estou a calçar os meus sapatos. E uma vez mais a mesma pergunta ameaçadora: Branca Flor, estás pronta? E sempre as mesmas respostas amedrontadas: que estava a pentear-se; que estava a lavar-se; que estava a compor a capa; que estava a pôr o chapéu… E sempre a mesma pergunta angustiada: Papagaio, vem pomba? E sempre a mesma resposta não desejada: Nem pomba nem sombra! Os gritos do pai misturavam-se com os soluços da menina , entrelaçando as palavras: Estás pronta? Vem pomba? Nem sombra… De repente o silêncio. Depois o pai ameaça: Vou contar até três e, se não desceres, arrombarei a porta do teu quarto.
Pela última vez, desesperada, Branca Flor sussurra: Papagaio vem pomba? Batendo as asas de alegria o papagaio responde: Vem pomba e vem sombra . Vem o teu príncipe, montado no seu cavalo branco. Vem o rei, seu pai, e toda a sua gente!
E o vento lá fora repetia:

Vem pomba, sem sombra!

Vem pomba, sem sombra!
Vem pomba, sem sombra!

Branca Flor !

Branca Flor !

Branca Flor !


Então, as amendoeiras encheram-se de flores brancas que juncaram o chão por onde passará BRANCA FLOR.